terça-feira, 1 de novembro de 2011
Análises fora do foco
A Previdência Social continua na berlinda. As considerações e propostas para ‘reformas’ são sempre baseadas em insuficiência de recursos, longevidade, disparidade de idade nos casamentos, e coisa tais que não justificam coisa alguma, porque não têm sustentação. Nada tão difícil de ser entendido. O foco das análises está errado! Basta que não se permita desvio das receitas da Seguridade Social e tudo estará equilibrado.
Explicamos: apesar dos desvios praticados, através da Desvinculação de Receitas União (DRU) e renúncias sucessivas concedidas a diversos segmentos da economia, a Seguridade Social, pagando todas as despesas autorizadas, deixou no Tesouro Nacional o expressivo saldo de R$ 58 bi, ao final do exercício de 2010, repetindo os anos anteriores. É intrigante continuarem a usar o argumento do déficit (que não existe!) para justificar reformas para a Previdência Social. Se existisse o tal ‘rombo’, de onde tirariam os 20% da DRU? Claro que isso é um engodo!
Por outro lado, agravando o verdadeiro saque ao Orçamento da Seguridade Social, ocorrem as sucessivas renúncias fiscais, que apartam do orçamento quantias expressivas que se prestariam, isto sim, ao pagamento dos precatórios dos segurados do INSS, à expansão dos programas assistenciais e, tão urgentemente, à recuperação dos serviços de saúde, precários em todo o Brasil. Para nós, não existe outra prioridade que se possa sobrepor a essas relacionadas.
Pior é que têm coragem de considerar ‘generosos’ os benefícios pagos pelo sistema. O teto desses pagamentos, que deveria estar em R$ 5.450,00 (dez salários mínimos), hoje só alcança o valor de R$ 3.689,66 – amargando a perda de cerca de 30% do que seria esperado. Aliás, as perdas impostas aos segurados chegam às raias do inacreditável: como imaginar que se pudesse impor, no decorrer da conquista dos direitos, o fator previdenciário? E o achatamento do valor dos benefícios, resultante do uso de percentuais diferenciados do concedido ao salário mínimo, para sua correção? A integralidade de seu valor, infelizmente, é letra morta; só cabe na Constituição Federal.
Temos ainda o erro de se abolir o pecúlio especial, benefício que remunerava o segurado que voltasse ao trabalho após a aposentadoria, que também foi para o espaço, sem qualquer cuidado. Hoje pensam em reimplantá-lo. E faz todo sentido: o princípio básico da contrapartida, que existe na doutrina previdenciária, foi desconsiderado quando resolveram banir o pecúlio.
Estão assustados com a receptividade do Poder Judiciário ao pleito da desaposentação. Não tem sustentação, para o STF, o fato de o segurado contribuinte pagar contribuição e não ter direito ao retorno de qualquer benefício que seja. Amadorismo puro!
Gosto muito de me referir e exaltar a capacidade técnica dos antigos pensadores da Previdência Social, que organizaram os seus estamentos. Tudo lógico, justo e seguro. Os ‘reformadores’, por outro lado, baseados em premissas falsas, querem de qualquer forma reduzir ou extinguir direitos dos segurados.
O foco correto é: executar os devedores da Seguridade Social; retirar a DRU das receitas da Seguridade Social; suspender, definitivamente, a concessão de renúncias fiscais sobre as receitas da Seguridade Social; e devolver direitos legítimos aos segurados.
Isto feito, estará sendo respeitado e garantido o artigo 201 da CF, quanto ao ‘equilíbrio financeiro e atuarial’ que visa a proteger a Previdência Social.
E, a propósito, não conhecemos qualquer dispositivo legal que permita a qualquer gestor, em qualquer nível, apoderar-se de recursos vinculados às ações da Seguridade Social, ou desviá-los, sob qualquer pretexto, ao arrepio do que reza o artigo 195 da nossa Carta Magna.
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sábado, 15 de outubro de 2011
O mundo está conflagrado!
O mundo está conflagrado! Passa por grave crise financeira, que se estende desde 2008, recrudescendo a cada dia com a inclusão de novos países europeus, fragilizados ainda mais pela falta de credibilidade e longe da reversão da expectativa de todo o planeta.
As maiores potências do mundo financeiro não chegam ao consenso e parecem estar longe da solução de equilíbrio e paz. Os trabalhadores estão nas ruas repelindo as medidas drásticas dos governos, que apontam sempre no sentido do corte de seus direitos. Aqui no Brasil, um pouco distante do centro das discussões, estamos às voltas com questões sérias, também de desrespeito aos direitos dos trabalhadores.
Estivemos em Santos (SP), participando do IV Seminário Anníbal Fernandes de Direito Previdenciário, promovido pela seccional Baixada Santista do Instituto dos Advogados Previdenciários (IAPE). No encontro, essas questões, tão nebulosas para os dirigentes, foram discutidas com clareza e riqueza de informações, havendo ao final do certame convergência de entendimento quanto ao que determina a Constituição Federal de 1988.
Temas como o equilíbrio financeiro e atuarial da Previdência Social, o fator previdenciário, desaposentação, benefícios especiais, correção de benefícios e perdas acumuladas nos últimos anos, entre outros, foram dissecados por especialistas – realmente especialistas – que trouxeram ao numeroso grupo presente ao evento razões técnicas que comprovam a forma equivocada como tratam o texto constitucional. Por desconhecimento? Por outros interesses?
Participou do evento a Advogada Paula Carolina Petronilho, de Registro (SP), que fez chegar às nossas mãos sua brilhante tese a respeito do tratamento que se vem dando aos segurados quanto aos seus benefícios e, também, do que se deve entender quanto ao equilíbrio financeiro e atuarial da Previdência Social. Ela aborda inicialmente métodos hermenêuticos que podem ser utilizados na interpretação constitucional. Segundo a autora, ‘toda interpretação jurídica é também interpretação constitucional e, portanto, é imprescindível a busca pela unidade por meio da interpretação’. Foi o que fizemos em Santos, nos dias 23 e 24 de setembro.
Os argumentos habitualmente usados para justificar a permanência do fator previdenciário e do não reajustamento dos benefícios por índices idênticos aos adotados para o salário-mínimo, caem por terra ante o que reza a CF 88, em seu artigo 201, § 4º, que estabelece que ‘é assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei’.
A legislação que disciplinou o reajustamento, contudo, adotou critérios que diminuem significativamente, ao longo dos anos, o valor dos benefícios. Este fato pode ser confirmado por simples cálculo aritmético e foi reconhecido pelo próprio Ministro da Previdência Social, em entrevista à ANFIP. Isso significa que o mandamento constitucional que determina a obrigação de manter o equilíbrio financeiro e atuarial do benefício (e não da ordem econômica, como se tem interpretado equivocadamente) e a irredutibilidade do seu valor foi desrespeitado, motivo pelo qual a norma infraconstitucional deverá ser declarada inconstitucional. Cumpre ressaltar que a redução do valor das aposentadorias contraria todos os fundamentos e os objetivos protegidos pela Carta Magna.
E ainda: os Títulos VI e VII da CF 88 disciplinam ‘a tributação e o orçamento’ e ‘a ordem econômica e financeira’, respectivamente. Não há nesses títulos qualquer previsão legal que restrinja o direito ao reajustamento dos benefícios previdenciários. Muito pelo contrário!
Iustitia suum cuique distribuit. (A justiça dá a cada um o que é seu.)
Que outros eventos como o de Santos possam ser sempre realizados.
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sábado, 1 de outubro de 2011
As necessárias medidas saneadoras
Maior número de pessoas se interessa, a cada dia, pela discussão da Seguridade Social, principalmente pela ameaça da imposição de nova receita para a Saúde. Isso porque a carga tributária já superou os limites do suportável. E, ainda, porque está provado que o Orçamento da Seguridade tem sido suficiente para atender aos encargos que lhe cabe realizar. Embora sofra insistentes baixas: com as sucessivas renúncias, com a inação na cobrança de seus créditos judiciais, com o maltrato do patrimônio imobiliário, enfim, com a falta de atenção e respeito para com o mais nobre e importante sistema de proteção social do país.
Estamos às voltas com a possível e iminente votação de medidas saneadoras de defesa da Seguridade Social. É possível – e esperamos – que, a qualquer momento, o Congresso Nacional elimine o mais injusto dos mecanismos de confisco: o fator previdenciário, que, desde 1999, aparta das prestações de aposentadorias percentuais que podem chegar a 40% do total que legalmente seria recebido pelo segurado em sua inatividade.
‘Legalmente’, porque ele contribuiu na expectativa de que, ao se aposentar, não lhe pudessem apenar com nova legislação, o que veio a acontecer com a Lei 9.876/99. O objetivo desta lei era frear os pedidos de aposentadoria, que passou a ser reduzida em seu valor no momento da concessão. Absurdo dos maiores!
A Emenda Constitucional (EC) 20/1998 alterou profundamente as regras da Previdência Social. Redução bastante severa no Orçamento da Seguridade Social, para compensar os rombos do Orçamento Fiscal – o da União. Esta é a verdade nua e crua.
Muitos falam que o fator previdenciário é constitucional porque, logicamente, os efeitos da EC passam a integrar o seu contexto. E daí? Podem também ser suprimidos, se o Congresso assim o decidir. E estamos certos de que isso acontecerá em pouco tempo.
Outros argumentam com o que dispõe o artigo 201 da Constituição Federal de 1988, que diz que ‘a Previdência Social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (...)’. Utilizando montagem incorreta de números (receitas e despesas), constroem o déficit da Previdência, o que é inaceitável porque, além de incorreto, agride a compreensão de estudiosos da matéria.
Se considerarmos o conjunto de receitas do artigo 195 da CF88 e contra ele jogarmos as despesas realizadas, encontramos, na série histórica dessa composição, resultados financeiros superavitários.
Agora, podemos questionar, tomando por base a exigência constitucional do equilíbrio financeiro e atuarial da Previdência: como considerar legais as pesadas renúncias fiscais sobre as receitas da Seguridade Social? E como considerar legal a incidência da Desvinculação de Receitas da União (DRU) nas receitas da Seguridade Social?
Bastam, pois, apenas dois questionamentos, para verificar que o Congresso Nacional e o próprio governo assacam contra esse equilíbrio financeiro e atuarial, numa clara afronta aos preceitos constitucionais.
No momento em que tramita na Câmara dos Deputados a PEC 61/2011, que propõe a prorrogação da DRU até 2015, o Deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE) propõe a exclusão da incidência da DRU sobre a arrecadação das contribuições sociais que se destinam ao financiamento da Seguridade Social, que cuida de programas de previdência, saúde e assistência social.
Bravos ao deputado; e que todas as associações, entidades de classe de trabalhadores, centrais e sindicatos apoiem esse pleito e levem aos gabinetes do Congresso Nacional a proposta que é de todos os trabalhadores.
Que é, sobretudo, do povo brasileiro.
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quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Oportunismo
A mídia está repleta de notícias desencontradas sobre financiamento da Saúde. Não só isso: confundem comprometimento de receitas de municípios, estados e União com necessidade de criação de receita para os programas do Sistema Único de Saúde (SUS).
A Emenda 29, que disciplina esse comprometimento, está adormecida no Congresso Nacional há longos anos, cremos que por desconhecimento do que se trata, ou pelo oportunismo de se tentar conseguir ‘mais algum’ por parte dos prefeitos, governadores e parlamentares. Felizmente, nem todos. Trata-se, simplesmente, de disciplinar o uso das receitas públicas em poder e sob gestão de estados e municípios. Impedindo, por exemplo, seu uso para custear merenda, saneamento básico, pessoal...
Grande número de municípios já destina os 15%, previstos na Emenda 29, para os compromissos da Saúde. Igualmente, a maioria dos estados já compromete 12% – e até mais – para atender as obrigações do SUS em sua área de abrangência. A União, no que cabe ao Ministério da Saúde, destinou, em 2010, R$ 61,096 bilhões para a cobertura de seu vasto programa de atendimento básico, vacinação, hospitalização, aquisição de insumos, pessoal etc., recursos oriundos do Orçamento da Seguridade Social.
É impróprio e errado afirmar que a União custeou o sistema SUS. Ele se mantém, desde sua inserção na Constituição Federal de 1988, com as receitas da Seguridade Social, dispostas no artigo 195. É dinheiro vertido como contribuição para a Seguridade; não arrecadado por meio de impostos.
Há mazelas na Saúde pública e sabemos bem quais são! Por omissão de recursos? Por erros de gestão? As duas coisas, pensamos. Não houvesse o absurdo da Desvinculação de Receitas da União (DRU) aplicada ao Orçamento da Seguridade Social, não haveria desvio sucessivo, ano a ano, de recursos que, se usados principalmente na Saúde e na Assistência Social, transformariam para melhor a qualidade dos serviços prestados e o perfil do povo brasileiro, o mais carente e necessitado.
Os estudos da ANFIP (Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil) estampam em suas publicações que, de 2005 a 2010, foi alcançado da Seguridade Social o espetacular montante de R$ 309,86 bilhões! Este é o saldo acumulado, que foi desviado pela DRU e, parte, retida no Tesouro Nacional. Os números estão aí para comprovar.
Por que defendemos a tese da irregularidade da utilização do mecanismo da DRU nas receitas da Seguridade Social? Porque princípio constitucional exige a anterioridade da receita para a criação ou expansão de benefícios. Assim, também nos parece que não podem permanecer benefícios com a retirada de seu financiamento. É claro! O que hoje se arrecada para toda a Seguridade Social, não só a Saúde, é suficiente para seus programas e até sua expansão, se for excluída do seu âmbito a inoportuna DRU.
Prova disso foi a própria extinção da CPMF, em dezembro de 2007: dinheiro, na realidade, não falta!
É absurdo pensar que recursos deixem de atender precatórios de segurados do INSS, à saúde da clientela do SUS ou aos cidadãos em estado de vulnerabilidade social, para serem desviados para o superávit fiscal do governo! Às vezes, recursos que sobram após a desvinculação (DRU) são encaminhados, pelo Tesouro, para atender à necessidade de outros órgãos públicos! Cabe alguma explicação das autoridades gestoras do orçamento do país.
Voltaremos ao assunto.
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quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Lição de cidadania
Embora possa parecer sonho ou conto de fadas, as notícias nos chegam da França anunciando a participação do empresariado no esforço de recuperação financeira do país. O que causa espanto no cenário do mundo moderno é que esta ação foi espontânea, envolvendo não só os grandes conglomerados financeiros, mas também a adesão dos mais ricos. Já se anuncia a taxação de imposto extra, de 3%, repetindo o que ocorrera entre 1981 e 1987 (no governo do socialista François Mitterand) e entre 1988 e 2001.
O exemplo, que vem de longe e compõe o pacote de austeridade do governo francês, ‘consiste basicamente em fechar brechas e benefícios tributários concedidos às maiores companhias do país’, explica o portal do Itamaraty na internet. Então, entendemos que serão suspensas as benesses concedidas ao empresariado e haverá uma ‘taxação excepcional’, que complementará o programa de reabilitação financeira.
Lá, se faz justiça fiscal: vão pagar os que mais podem; os que detêm o patrimônio e a renda.
A nossa Constituição Federal, recém entrada em sua maioridade, também estabelece os princípios para a taxação mais significativa sobre o patrimônio (grandes fortunas, artigo 153, VII) e rendimentos do capital. E o que já se fez a respeito, ao longo desses 23 anos, no Brasil? Respondemos: nada! A política do lado de cá é taxar pesadamente os trabalhadores e conceder anistias, isenções e renúncias diversas a quem pode pagar. Fosse só isso...
Estamos num embate sério e perigoso. O governo já anuncia, para dezembro próximo, mudanças na concessão de aposentadorias (do RGPS – Regime Geral de Previdência Social), com extensão do tempo de contribuição para, pelo menos, mais sete anos, a fim de compensar a extinção do fator previdenciário. A base de sustentação para os estudos é que o governo precisa ‘proteger a sua receita’. Ora, os benefícios previdenciários não são pagos com receita da União, do Orçamento Fiscal! Tudo o que se continua apresentando à sociedade é falacioso, porque a sua base é insustentável.
É fundamental um pouco mais de clareza na posição dos técnicos que anunciam as propostas. De pronto, considerar a existência de três orçamentos distintos, no Brasil. O que paga os benefícios do INSS, chamemos assim, é exclusivamente o Orçamento da Seguridade Social, sempre superavitário ao longo de toda a existência da Previdência Social. Em 2010, de acordo com publicação idônea da ANFIP e Fundação ANFIP, ‘Análise da Seguridade Social em 2010’, este orçamento deixou o importante saldo financeiro de R$ 58 bilhões, não contestado por qualquer entidade que se dedique à análise e ao acompanhamento dos grandes sistemas do país. O fantástico superávit primário do governo (R$ 350 bi) foi construído com ‘sobras’ do Orçamento da Seguridade Social. Falam disso?
Perguntamos: implantaram o tal fator previdenciário sem qualquer respeito aos direitos dos contribuintes; agregaram ao elenco dos compromissos (programas) da previdência pública pesados encargos, sem a identificação prévia das receitas que os sustentem; e para extirpar esse confisco precisam de salvaguardas? Alegam que essa (esperada) medida põe em risco o orçamento do governo? Não somos amadores nem aventureiros!
Junto com o anúncio estapafúrdio de elevar o tempo de contribuição até quase 50 anos, vem o comunicado de que houve déficit, em julho de 2011, nas contas da Previdência Social. Que irresponsabilidade! Toda a Seguridade Social é bancada pelo seu próprio orçamento (artigo 195 da CF88), sem socorro do Orçamento Fiscal – este sim, deficitário.
Aliás, as discrepâncias de avaliação são notórias: para Arno Augustin, Secretário do Tesouro Nacional, ‘é o melhor julho da história e se deve ao bom comportamento das receitas’; mas para a Secretaria de Políticas da Previdência Social (SPS), órgão do Ministério da Previdência, houve ‘déficit de R$ 2,08 bi’. Coitado do cidadão brasileiro; em quem acreditar?
Em termos de análise da Seguridade, esse pessoal é mesmo muito fraco. Nada entende, precisa voltar ao bê-á-bá, desde 1923, e aprender os conceitos que formaram esse fantástico sistema de proteção social. Eles parecem desconhecer que, para mudar a essência dos seus direitos, tem que aplicar as alterações para quem está ingressando agora na Previdência Pública.
E mais: quem garante que o Congresso Nacional vai votar contra o trabalhador, virando as costas para quem construiu este país?
‘Taí’, vamos esperar...
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segunda-feira, 15 de agosto de 2011
A Previdência Social no fio da navalha
Temos que exaltar o espírito de luta e a resistência de parte da massa dos trabalhadores brasileiros, em defesa da Previdência Social. Pode-se expandir para o expressivo número de estudiosos da matéria, que ao longo das duas últimas décadas participam das discussões sobre o ‘propalado’ e inexistente déficit, ajudando a construir a consciência nacional a respeito do assunto.
São incessantes os ataques aos direitos dos trabalhadores e as investidas para a desconstrução da estrutura básica da nação: a previdência pública. Rol inigualável de direitos e conquistas à mercê de ataques de técnicos indesejáveis e nocivos ao progresso do país.
Voltamos aos primeiros meses de 2003, com o abjeto discurso da ‘desoneração da folha’. Coisa impensável para quem conhece, pelo menos um pouco, de Previdência Social. Não basta, para esses reformadores, o fracasso de outros países, que tentaram mexer em suas previdências e tiveram a reação violenta da população – lembremos da França, da Itália, da Grécia...
Os fracassos das políticas financeiras dos países não podem nem devem ser compensados com as conquistas sociais. Elas são inatingíveis, porque resultam sempre de lutas de categorias profissionais organizadas que vão, pouco a pouco, construindo suas normas de direitos.
Ao lado desses idealistas, que construíram o modelo de Previdência Social apreciado e copiado pelo mundo, estão todas as entidades de classe, muitas com mais de meio século de existência, produzindo estudos avançados que permitem uma tomada de posição irredutível a favor da manutenção da Previdência Social nos moldes atuais, prestante e sustentável. Para tanto, é importante que mantenha íntegro o rol de suas receitas – estatuídas e votadas pelo Congresso Nacional e que compõem seu Orçamento uno e indivisível, que só se destina a programas de Seguridade Social.
Para alterá-lo, parece-nos ser necessária a convocação de Congresso Originário; mexer, como pretendem, na espinha dorsal de um sistema como o previdenciário, que alcança 190 milhões de vidas, é de pronto um ato de irresponsabilidade. Onde estão os estudos que tratam da tal desoneração? Quais os seus reflexos? Onde estão as tendências apuradas cientificamente?
Desde sempre, colocamo-nos contra qualquer mudança na estrutura de receitas da Seguridade Social. Inclusive este é o momento de cerrarmos fileiras contra a prorrogação dos efeitos da Desvinculação de Receitas da União (DRU)! As receitas do orçamento da Seguridade têm que ser blindadas e destinadas apenas aos seus programas. A Educação já se livrou desse alcance.
Causa-nos indignação ver impassivelmente, como espectadores, aqueles que poderiam tomar à frente esta luta. Fazem falta os cardeais, os pensadores que, um dia, a Previdência Social teve em seus quadros!
Nada nos resguarda... Porém, o Brasil Maior, belo programa (2011-2014), está carregado de salvaguardas para áreas da Economia já bastante beneficiadas por ações governamentais, agora protegidas sob títulos como: ‘Estímulo ao Investimento e à Inovação’; ‘Desonerações Tributárias’; ‘Desonerações das Exportações’; ‘Defesa Comercial’; ‘Promoção Comercial’; ‘Defesa da Indústria’; e por aí vai. E nada sobre ‘estímulo’, ‘defesa’, ou ‘promoção’ da Previdência Social...
Fala-se de ‘impacto neutro sobre a Previdência Social’, mas qual a sustentação que têm, hoje, para garantir tal jogo de risco? Fala-se em ‘manutenção e geração de emprego’, e garantimos, desde já, que isto não haverá.
Francamente: concordamos que é necessário ‘competir para crescer’, mas não à custa do desprezo e assalto às receitas próprias do maior sistema de proteção social do país. Devolver o que se tomou da Previdência Social em seus 88 anos de existência, nada. Porém, acelerar devolução de créditos a empresários, já.
Deus salve a Previdência Social!
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segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Desenvolvimento por completo
Vimos defendendo, por muitos anos, a conveniência de os cargos públicos serem preenchidos por servidores, legitimamente selecionados, através de concurso público, como prevê a Constituição Federal. Precisa haver respeito na entrega de atribuições públicas aos seus legítimos zeladores. Eles respondem administrativa e judicialmente por qualquer deslize na prática das ações sob sua responsabilidade.
Estamos acompanhando o desarme de uma verdadeira torre de babel dentro de um órgão de governo! A permissividade do uso do orçamento público para empregados terceirizados e chefias de alto padrão hierárquico abriu as portas das entidades públicas para os de maior poder político, não necessariamente os mais capazes moral e profissionalmente.
Saudosismo, pode ser, falar em seleção pelo DASP (o Departamento Administrativo do Serviço Público, criado em 1938 para organizar os órgãos do Estado e aperfeiçoar a máquina pública); ou até pelas próprias instituições do governo. Mas foi o que deu certo no Brasil. A decadência do Serviço Público deve-se àqueles fatores e, ainda, à má retribuição salarial a um grande número de carreiras da grade pública.
Pior: com pessoal estranho aos quadros públicos, o que temos visto é punição zero. Lamentável!
Alegam que há servidores públicos em demasia no Brasil. Contudo, isto não se sustenta se observarmos o montante de agentes oficiais em outros países de desenvolvimento e população semelhantes aos nossos. A fala do governo, vetando, em seus primeiros dias de ação, o concurso público, foi igualmente lamentável. Felizmente, com o passar dos meses, houve um relaxamento neste ímpeto. Apesar do tempo perdido, cremos que vamos recuperar espaços e capacitar os melhores para as altas funções a serem exercidas.
Um país em desenvolvimento carece de um maior contingente de trabalhadores, mais diversificados, em múltiplas áreas. O Brasil tem que crescer como um todo! Fala-se que ‘resgatamos da miséria uma Argentina de pessoas’. Fizemos isso com o Bolsa-Família, a cesta básica... Porém, temos que agregar ao ganho dessa imensa população todos os direitos sociais: educação, saúde, moradia, lazer etc.
Com certeza, a ascensão social não se deu por completo. Mas isso poderá ser feito ao longo dos próximos anos. Temos à vista nova receita, oriunda do desenvolvimento; temos a riqueza do pré-sal, possível de ser utilizada já nos próximos anos; contamos com o progresso da economia individual, crescente ano a ano. Além disso, haverá maior orçamento com o engajamento da massa de trabalhadores que chegam dia a dia ao mercado.
Hoje, tudo anda muito nebuloso no resto do mundo. Nós, felizmente, vivemos dias de paz, embora a crise cambial não tenha sido ainda equacionada pelos técnicos do governo. É difícil entender que, com tanta riqueza à nossa disposição, tenhamos deixado a dívida pública federal escapar para R$ 1,805 trilhão, em junho passado. Esse é o grande ralo por onde escoa todo o esforço do trabalhador brasileiro, das empresas sérias, da indústria ativa, que remunera o capital especulativo que entra no Brasil.
Acreditamos na política pública de erradicação da miséria absoluta. Ela deve ser perseguida por todos os países do mundo. É inconcebível conviver em paz com tantos povos sofrendo com a fome.
No entanto, no Brasil, para completar-se o sucesso já alcançado, temos que levar a cidadania a todos, respeitando os direitos fundamentais constantes de nossa Carta Magna.
Muito há ainda a fazer!
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